Não sei o que acontece comigo, mas quando sou colocada (ou me sinto) em
uma situação de teste - como primeiros encontros e entrevistas de
emprego -, tendo a desenvolver uma espécie de amnésia seletiva que
desencadeia uma terrível falta de habilidade de me expressar.
Uma vez
estava em uma entrevista de emprego importante e me perguntaram se eu
gostava de ler. Eu disse que sim, claro, óbvio, como não? A mulher
sentada à minha fente não pareceu se impressionar com a minha resposta, e
sorriu como quem pensa "até parece que você diria outra coisa." Depois
perguntou qual fora o último livro que eu tinha lido.
Engoli no seco.
Não é que eu não leia livros. Eu leio livros. Vários livros.
Mas
naquele momento, era como se uma câmera se aproximasse rapidamente até o
meu rosto e eu pensasse "ai meu deus, eu nunca li nenhum livro na minha
vida."
E comecei a me desesperar, dando um google no meu cérebro,
percorrendo todos os cantos obscuros da memória até chegar a um título, o
único que brilhava em neon no meio da minha massa cinzenta.
"Moby Dick", respondi, enfim.
O que seria ótimo, não fosse pelo fato de eu nunca ter lido Moby Dick.
"Ah, é maravilhoso", ela respondeu, agora sim abrindo aquele sorrisão, impressionada com a magnificência do meu intelecto.
"É um clássico, né", afirmei, segura daquela verdade inquestionável.
"É uma história linda", ela continuou.
Ok,
vamos lá. Google mental: Moby Dick. Eu sei que Moby Dick é o nome de
uma baleia. Uma baleia branca, o que torna "Free Willy" praticamente uma
resposta das minorias oprimidas. Mas, enfim, isso não vem ao caso
agora. Eu lembro de um pirata, um marujo, um lobo do mar; e ele tenta
caçar Moby Dick. Ele tenta caçar Moby Dick até o fim da sua vida. É
isso!
"Ele tenta caçar Moby Dick até o fim da sua vida", eu disse, emocionada.
E tudo acabaria aí, não fosse pela minha petulância.
"Todos
nós temos as nossas baleias brancas pra caçar, não é mesmo?", insisti,
testemunhando o sorriso da mulher se transformar em algo nebuloso. Foi
só então que me dei conta de que ela era bem gorda. E branca.
"Quer dizer, é uma metáfora", tentei, em vão, consertar, ao que ela riscava algo em sua agenda. "Você riscou meu nome?"
"Não", ela respondeu, expressiva como uma parede. Uma grande parede. Branca.
Mas poderia ter sido pior. Eu poderia ter dito qualquer um do Paulo Coelho.